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Quando o Poema Atravessa o Peito: três poemas de Luana Andrade

  • Foto do escritor: Dee Mercês
    Dee Mercês
  • 12 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 13 de jan.

Premiada em 2023, a poeta e escritora baiana Luana Andrade traz a força de sua ancestralidade e a sensibilidade de seu olhar para a coluna de Gustavo Anjos. Confira três poemas da autora!


Quando o poema atravessa o peito: três poemas de Luana Andrade

A coluna Quando o Poema Atravessa o Peito, farol da poesia brasileira contemporânea na Geração de 20, apresenta nesta edição a obra de Luana Andrade. Escritora e acadêmica em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus VI (Caetité), Luana conquistou o prêmio Prize Of Arts em 2023 pela poesia Clother Versus Be Me. É autora de Na Luta Estou, sobre patriarcado e representatividade feminina, e lançará em 2024, em Buenos Aires, seu segundo livro, Luar, que abordará razão e emoção.


Quando o Poema Atravessa o Peito: três poemas de Luana Andrade


Ô MÃE


Ô luar, vim banhar no teu manto,

Vim beber da tua luz,

Vim renovar minhas forças,

Vim porque me chamas, tu me chamas!

Eu estou aqui, bem no centro.

Ouço a tua voz muito distante,

Lá no íntimo, 

Perdida na mata,

Escondida entre as folhagens,

Mas eu sinto a tua presença.

Tuas raízes

Ô mãe!

Ô manto sagrado que rege em mim,

Nas minhas pétalas,

Sou apenas uma mudinha dos teus ancestrais,

Tu resplandece aqui dentro.

Sinto...

Eu sinto a tua energia, 

O manto me banhar

A tua pureza como luar

Me lava

Me purifica

Ô mãe natureza!

Ô raio luar!

Sigo os teus chamados

Sigo as suas filhas

Porque sou uma delas.

O trocar das tuas folhas, 

O romper das tuas raízes,

O crescer dos teus galhos,

O verde da esperança espalhado,

O colorido das tuas flores,

O zumbido das tuas abelhas.

Rainha! Rainha!

Folhas, flores, raízes, galhos, abelhas desenhados em meu corpo.

Sabe quem eu sou?

O manto sagrado feminino:

Sou filha da mata

Sou neta da lua 

Sou a mandala 

Desenhada na parede,

Esquecida por aqueles sem sentimentos,

Apreciada por aqueles olhares sensibilizados femininos.

Sou a mulher 

Com a alma da floresta 

Plantada no centro da cidade.


FRIO

 

Tua frieza cortante

Massacra a vontade de te ter.

 

Entre a angústia do querer

E o peso de perder.

 

Estou vasta

Pela solidão.

 

Apegada no farrapo da saudade,

Sufocada pela imensidão.

 

Melancólica é a dor

Querer? E o medo de ter?

 

O frio do ser

versus

o calor do teu corpo

 

É a recompensa que pago

Por persistir em ti,

Ao invés de partir.


RODA GIGANTE

 

Não importa o caos

Ou o acaso,

Sempre chegam ao fim.

É nítido o quanto é vasto,

E o quanto é dolorido ver partir.

Quando se trata de afastar,

Vamos nos desapegando aos poucos.

As conversas já não têm o mesmo vigor,

Os toques já não arrepiam os corpos.

Os encontros já não satisfazem as almas,

Quando solitário se torna, mesmo juntos.

É um novelo que vai perdendo o fio da meada

Até chegar ao fim:

Se torna estranho

Quem um dia foi o motivo de tantos planos.

Os melhores momentos

São lembranças distantes.

E assim, fechamos ciclos

Com pessoas que um dia nos arrancaram verdadeiros sorrisos.

Pessoas vem e vão

Em uma vasta roda gigante.

Com propósito ou sem,

A roda não para,

A vida apenas passa.


 

Quando o Poema Atravessa o Peito é uma coluna semanal dedicada à poesia brasileira contemporânea, com curadoria do poeta baiano Gustavo Anjos e edição do poeta Dee Mercês. A coluna destaca poetas em ascensão ou com trajetórias estabelecidas, tanto na Bahia quanto em todo o Brasil.



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