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Foto do escritorDee Mercês

G.G. Diniz e o Sertãopunk: literatura especulativa e a voz do Nordeste

Atualizado: 15 de out.

G.G. Diniz e o Sertãopunk: literatura especulativa e a voz do Nordeste

Na literatura contemporânea, é constante o surgimento de novas ideias, novas perspectivas e, consequentemente, novos movimentos. É o caso de G.G. Diniz, editora, tradutora e escritora cearense que publicou obras como Morte Matada e Outras Histórias e A Diplomata. Seu estalo de sucesso veio por meio da indignação como a região Nordeste era retratada em obras especulativas escritas por autores do eixo Sul-Sudeste. Inconformada, ela, junto dos autores baianos Alan de Sá e Alec Silva, idealizaram algo novo. Um movimento inovador a ponto de assumir proporções nacionais e internacionais, de modo a virar tema de notícias, palestras e, agora, de entrevista.


Trata-se do Sertãopunk, um conceito sobre o Nordeste — idealizado por nordestinos. Produzido não apenas para a literatura, como também para o cinema e as artes visuais, esse movimento já alcançou a imaginação de muitos, como a Coleção Carcarás, com autores de toda a região, e do curta 2020, dirigido por Oziel Herbert, também cearense. Suas três bases fundamentais são: o afrofuturismo, caracterizado pela idealização artística do futuro de populações negras; o solarpunk, nicho da ficção científica sobre possibilidades otimistas para o futuro da humanidade; e o realismo mágico, corrente literária que floresceu na Americana Latina, no qual eventos fantásticos adentram realidades cotidianas. Soube-se, aliás, da repercussão internacional desse mais recente nicho da literatura brasileira entre autores e universidades do exterior.


Confira, agora, as opiniões da cocriadora:


Qual é o seu parâmetro de uma boa literatura?


O meu principal parâmetro é pensar se eu curti o tempo que passei lendo a história. Às vezes, a história não é a melhor história com a melhor execução do mundo, mas eu li e me diverti, ou li e aprendi alguma coisa. Ou até mesmo li e achei construtivo o exercício de esmiuçar a história nos seus pedacinhos para estudá-la. Para mim, boa literatura é a que não faz você se arrepender do tempo que dedicou a ela.


Você fez graduação em Química e recentemente soube-se que você começou a cursar Letras. De que forma essas áreas podem influenciar na sua escrita de obras especulativas?


Acredito que minha formação em Química me ajudou bastante a vislumbrar que tipos de tecnologia poderão haver no futuro. Uma boa parte das minhas histórias acontecem no futuro próximo, então não tem tanto espaço para tirar tecnologias muito avançadas "do nada". O meu conhecimento em Química e áreas correlatas já me deram muitas ideias para histórias. Já Letras, eu ainda não sei! Minhas aulas começam em outubro. Eu imagino que ter contato com obras que eu não leria normalmente vai influenciar, e muito, minha escrita para os próximos anos.


Em relação à divulgação literária, qual a sua opinião sobre o papel a ser tomado por autores em relação às mídias digitais?


Idealmente, autor nenhum ia ter que tomar papel em relação às mídias digitais. Isso acontece agora porque o próprio autor se tornou um produto, para além dos seus livros. Infelizmente, temos que jogar o jogo: ser ativo, participar de discussões, divulgar nossos livros, divulgar, divulgar, divulgar. Queria que não fosse assim, mas é como as coisas estão.


Tratando agora de contribuições culturais, como é ser a co-criadora do Sertãopunk e lidar com as repercussões desse movimento?


Ah, eu me sinto muito chique por ter cocriado o sertãopunk. Tive oportunidades que jamais teria na vida se não fosse o sertãopunk, e sou muito grata a todos que apoiaram e que participam do movimento conosco.


Qual você espera ser o futuro do Sertãopunk?


Dominação mundial.


Seu conto, O sertão não virou mar, traz um futuro distópico no qual Fortaleza, capital do Ceará, ficou submersa. Como você se sente ao ter criado essa história em meio ao contexto de crise climática em que vivemos?


Eu sei que uma história só não é capaz de mudar o mundo, mas eu sinto que pelo menos tentei fazer as pessoas refletirem sobre as nossas perspectivas de futuro num planeta que está queimando.


É possível, na sua perspectiva, que a literatura, em especial a especulativa, traga alguma mudança para o mundo real?


Acredito com toda certeza. A ficção especulativa, por mais fantasiosa que seja, sempre é uma forma de lidar com questões do mundo real. Por meio da fantasia, podemos trazer reflexão sobre vários temas relevantes.


Sobre seu estilo literário, temos um texto conciso e, em alguns momentos, bem ácido. Por quê?


Sendo sincera, não sei escrever de outra forma. Apesar de eu raramente escrever sobre coisas pessoais, meus textos sempre têm muito de mim na prosa. Eu sou uma pessoa bem simples e direta: minha prosa não poderia ser outra coisa.


O que pode ser esperado das suas próximas publicações?


Recentemente, inaugurei um novo pseudônimo com o lançamento de "Não fica tudo bem no final", uma história levemente autobiográfica sobre uma jornalista que passa por uma jornada de saúde mental, mas o que está na gaveta é tudo de ficção científica com uma pontada de horror.


Por fim, uma última mensagem aos escritores?


Escrevam o que gostam e querem escrever; só assim vocês vão conseguir o público feito para vocês.


A conversa com G.G. Diniz revelou uma autora apaixonada e multifacetada, cuja formação em Química e incursão nas Letras alimentam sua escrita especulativa. Sua cocriação do Sertãopunk e a exploração de futuros distópicos demonstram seu compromisso em usar a literatura para questionar, provocar e inspirar.


Com um estilo conciso e direto, Diniz nos convida a repensar narrativas e abraçar a autenticidade na escrita. Sua trajetória e obras deixam uma marca indelével na literatura brasileira, impulsionando a ficção especulativa para novos horizontes e abrindo espaço para vozes diversas e inovadoras.



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Sobre o entrevistador: Enzo Santana Macedo nasceu em Teresina–PI e passou sua infância entre Bahia e Maranhão. Seus contos foram publicados em revistas digitais renomadas, incluindo Aboio e Ruído Manifesto. Para saber mais sobre suas reflexões literárias e opiniões, ele pode ser encontrado no Instagram: @enzo_santana_macedo.


Edição: Dee Mercês.


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