Autora e ilustradora carioca, Fernanda Nia é graduada em Comunicação Social e Direito, mas se encontrou na arte de contar histórias. Escreve principalmente para o público jovem, sendo autora de diversos livros de romance e fantasia, além dos quadrinhos e pequenos textos do site "Como eu realmente..."
Existe uma crença em uma espécie de hierarquia literária, que coloca alguns gêneros em posição de destaque enquanto relega outros, como o Young Adult e os quadrinhos (também considerados a nona arte), a um patamar inferior. Essa opinião, embora um pouco popular, não leva em consideração a quantidade de leitores formados por esses dois nichos. É raro que adolescentes cultivem o prazer pela leitura por meio de autores como Machado de Assis e Clarice Lispector, embora a qualidade destes seja inegável. Em geral, o interesse pela leitura surge com obras como Jogos Vorazes, A culpa é das estrelas e Para todos os garotos que já amei. No Brasil, vários escritores também se destacam nesse campo, como Vitor Martins, Lavinia Rocha e, é claro, Fernanda Nia.
Fernanda Nia é, de fato, uma multiartista. Começou com o blog “Como eu realmente”, que alcançou proporções internacionais. Nele, publicava tirinhas e textos com opiniões, ideias e muitas piadas. A Editora Nemo publicou coletâneas temáticas desses quadrinhos e, em pouco tempo, Fernanda Nia expandiu sua produção para outras obras literárias. Ingressou no universo Young Adult, cuja importância supera qualquer julgamento, e impactou a vida de muitos jovens. Seu livro Nosso lugar entre cometas alcançou reconhecimento internacional e foi publicado na Argentina.
Além de escritora, Fernanda Nia possui duas graduações e experiência profissional em diversas áreas, demonstrando sua constante busca por aprendizado e prazer em suas atividades. Confira, agora, o que ela opina:
Por que você escolheu escrever livros Young Adult?
A juventude e o início da vida adulta são fases especiais na formação de um leitor. Guardo com carinho as lembranças da minha jornada nesse período e me sinto realizada por escrever para jovens que estão passando pelo mesmo. Como autora, quero compartilhar meus sentimentos, alegrias e reflexões com eles, fazendo parte do processo transformador que é a literatura nessa fase. E, acima de tudo, quero levar otimismo aos meus leitores.
Quais obras te inspiraram a trabalhar neste nicho da literatura?
Acredito que todos nós, não apenas autores, mas como indivíduos, somos uma colcha de retalhos de tudo que nos marcou. Desde jovem, fui uma leitora voraz e algumas obras foram essenciais para me tornar a autora que sou hoje, com minha própria voz. Livros da Meg Cabot, como a série A Mediadora, mangás de humor e aventura como One Piece e até mesmo fantasias épicas como O Senhor dos Anéis me marcaram profundamente. Atualmente, busco inspiração em obras com linguagem lírica, como as da poetisa Sarah Kay, e em autores clássicos do realismo mágico latino-americano, como Isabel Allende e Gabriel García Márquez. Continuo lendo, tanto criticamente quanto por prazer, diversas obras de literatura fantástica Young Adult, como as de Cassandra Clare e V. E. Schwab.
O que o “Como realmente”, seu site de tirinhas, significa para você?
O "Como eu realmente" foi onde iniciei minha trajetória autoral, em 2011. Publiquei tirinhas e textos sobre meus sentimentos por mais de uma década. Compartilhei minhas vulnerabilidades com os leitores e essa experiência foi fundamental para me entender como autora, tanto de quadrinhos quanto de prosa, e para ingressar no mercado editorial. Tenho leitores que me acompanham desde essa época, alguns há mais de uma década, e isso é uma honra para mim.
Além de escritora, você também é ilustradora, formada nas áreas de Direito e Comunicação Social, além de ser alguém que “gosta de estudar por prazer”. Como é conciliar tudo isso?
Sinto-me como um polvo com muitos tentáculos, sempre tentando alcançar lugares diferentes. O "problema" de gostar de aprender e trabalhar com muitas coisas é que você realmente acaba trabalhando com muitas coisas! (risos)
Como autora e ilustradora, o que você acha da ascensão da inteligência artificial? Isso atrapalha ou agrega no seu trabalho?
Do ponto de vista artístico, não me interessa, como autora, usar IA para substituir a produção original. O que é produzido artificialmente não é arte. Vender livros e ilustrações é importante para meu sustento, mas o valor artístico da obra está no topo das minhas prioridades. A questão ética é a mais importante nesse momento, por diversos motivos. Primeiramente, as ferramentas de IA são treinadas com trabalhos de artistas sem autorização, o que é uma infração legal. Em segundo lugar, a ascensão não regulamentada da IA terá forte impacto no mercado de trabalho artístico, que já é fragilizado. As ferramentas de IA, em sua maioria, não auxiliam os artistas e podem aumentar a concentração de renda para os donos das ferramentas, em detrimento dos criadores do conteúdo original. Por fim, há a questão ambiental. Em um mundo que enfrenta mudanças climáticas irreversíveis devido ao aquecimento global, questiono se precisamos aumentar o consumo de energia para alimentar servidores de IA.
Fale sobre seu novo livro A magia que nos pertence.
A magia que nos pertence é uma obra de fantasia urbana com nuances de romance, que acompanha a jornada de dois casais de jovens em um Rio de Janeiro mágico, onde o sobrenatural é corriqueiro. Eles embarcam na busca por uma criatura inusitada e valiosa: um algoritmo de redes sociais que ganhou vida por meio da magia. Mas, para alcançar essa criatura e desvendar os mistérios do passado, eles precisam confrontar seus próprios segredos e lidar com suas angústias.
Por fim, alguma mensagem para os jovens?
Nunca deixem de ler! Permitam que a leitura transforme suas vidas, assim como transformou a minha.
Com uma mensagem inspiradora, encerramos esta entrevista. Fernanda Nia compartilhou opiniões relevantes sobre literatura, trabalho e temas atuais, o que explica o impacto de suas obras na vida de tantos jovens brasileiros. Para conhecer mais sobre a autora e sua obra, acesse seu site: https://www.fernandania.com/
Compartilhe esta entrevista e ajude a espalhar a magia da leitura!
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A coluna "Entrementes, entrevistas" traz conversas com escritores e escritoras brasileiras, conduzidas pelo jovem escritor piauiense Enzo Macedo e editadas pelo poeta baiano Dee Mercês. A coluna explora o panorama literário contemporâneo do país, apresentando autores e suas obras ao público da Geração de 20.
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